Faz tempo que não escrevia. Faz tempo que não me sentia tão cheia de sentimentos ruins ao ponto de querer colocá-los em um texto. Faz tempo que havia esquecido quão libertador é tirar as armaduras, derrubar alguns muros e apenas colocar para fora tudo aquilo que nos sufoca pouco a pouco aqui dentro.
Ainda bem que nesta quarta-feira (23), às 22h47, resolvi me libertar. Resolvi deixar meu subconsciente falar e expor, mesmo com ressalvas, todas as fraquezas que moram aqui. Resolvi me despir e, por mais que seja difícil, expor tudo aquilo que me fere. No entanto, caro leitor/a, preciso voltar alguns anos no passado, encontrar uma criança ferida e abraçá-la.
Preciso colocar a Larissa de 8/9 anos no colo, acalentá-la e dizer: 'Tudo bem! É normal sentir falta de um afago que você não tem! Mas o erro não é seu. A culpa não está em você". Se eu soubesse disso naquela época, talvez, hoje, não estaria novamente me culpando por erros que não são meus.
Também preciso colocar a Larissa de 14 anos no colo, pentear seus cabelos e dizer: "Não tenha pressa! Príncipes encantados não existem. Aprenda a cuidar do seu sentimento e mais ainda do sentimento do outro". Talvez, com esse conselho, eu teria tido mais responsabilidade afetiva com pessoas boas que passaram no meu caminho e, hoje, não estaria achando que estou colhendo o que plantei.
Também não posso me esquecer da Larissa de 16. Para essa não teria colo, mas sim uns puxões de orelhas, seguidos de um presente chamado terapia. Além, claro, da frase: 'Não aceite menos do que você merece! Saia de onde não te cabe'. Quem sabe assim, hoje, eu não estaria triste por ter me livrado de lugares pequenos que me aprisionaram.
Para a de 17/18 daria um conselho que hoje me é muito útil, mas que aprendi recentemente: 'Não confie cegamente nas pessoas! Lembre-se que Judas beijou Jesus no rosto'. Se tivesse aprendido isso naquela época, talvez, hoje, não estaria sofrendo por ter sido apunhalada pelas costas.
Para a Larissa de 19/20 eu seria ainda mais rude. Daria talvez uns dois tapas na cara para me fazer acordar. Quem já viu uma mulher dessa idade ainda acreditar em contos da carochinha? Que sapos viram príncipes e que um final seria feliz para sempre? Depois das bofetadas, iria dar umas boas gargalhadas, quem sabe assim, hoje, não estaria me sentindo uma palhaça.
Eu queria ter tido todas essas oportunidades. Queria ter me acalentado, me aconselhado, me amado, me escutado, me escolhido. Mas em nenhum desses momentos o fiz. Em nenhum desses momentos me priorizei. Por isso, hoje, estou tão machucada. Desde a infância que venho me culpando por coisas que não tenho culpa. Venho carregando fardos que são maiores do que eu deveria carregar. Por isso, hoje, visto a roupa da vítima. Coisa que também não me cabe.
Por isso e por causa disso, que hoje escrevo para a Larissa do presente, com 21 anos e tantas marcas desnecessárias. Escrevo para reler todas as vezes que precisar e mais na frente com 22,23,24...35,38... ter a consciência limpa de que me acalentei, me escutei, me aconselhei e me cuidei.
Assim, eu digo: É normal você querer desistir. É normal sentir um aperto enorme no peito por tudo que aconteceu e por tudo isso que você vem carregando. Mas chegou a hora de se livrar de todo peso desnecessário. É preciso se livrar dos arrependimentos, das mágoas, das tristezas... É preciso matar tudo isso que te engole viva. Eu estou olhando para ti. Estou vendo tua dor. Estou vendo teu cansaço. Mas ainda assim vejo o brilho que sempre enxerguei em teus olhos, minha menina. Enxuga as lágrimas, te cuida, te ama. Coloca um batom vermelho, tua música favorita e dança. Sente o vento batendo em teu corpo, sente o quão forte és, te desnuda deste papel de vítima, veste tua pele de loba e segue. Lembra daquela frase clichê, mas necessária: 'Você é mais forte do que pensa e será mais feliz do que imagina'.
Releia sempre que precisar.