SETEMBRO AMARELO - Você também pode ajudar
08:28
No fone ecoava a frase "Eu não vim até aqui pra desistir agora", mas o embrulho em seu estômago por ter que enfrentar mais um dia não condizia com a música. Ele colocou os pés no chão gélido e sentiu todo o seu corpo estremecer. Não era a primeira vez que acordava com aqueles pensamentos, mas era a primeira vez que pensava em tirá-los do imaginário. Havia escrito cartas para a mãe, pai e irmã. Sabia que nenhum deles o perdoaria, porém não enxergava outra solução. A dor em seu peito era cortante por mais que não fosse exposta. Ele não entendia o sentindo da vida e nem o porquê de sentir tamanha amargura. Devido a isso, ele não culpava as pessoas que também não entendiam.
Nunca passou pela sua cabeça procurar um especialista ou falar com alguém. Seus amigos notavam o seu afastamento, mas no momento não estavam dispostos a aguentar o seu "drama", sua mãe orava todos os dias antes de dormir pelo mal que assolava a vida do filho, seu pai achava que era falta de um amor e sua irmã, com 5 anos, apenas abraçava-o e chamava-o para brincar. Assim, a sua vida seguiu durante um ano. Os dias eram cinzas e intermináveis, as pessoas eram chatas e incompreensivas e as noites se tornavam horas incessantes de pensamentos suicidas. Seu isolamento era motivo de debate durante o jantar e os questionamentos dele ter deixado de ser um garoto tão alegre para se tornar um adolescente problemático se tornaram um tempero diário nas refeições. Estar em família já não lhe fazia bem como antes e assim como as outras coisas também se tornaram um fardo.
Até que chegou o dia. O dia em que as vozes na sua cabeça se tornaram insuportáveis, o dia em que a sua vida chegou na linha tênue entre o faz e o tanto faz, o dia em que ele decidiu. Ele olhou-se no espelho e não se reconheceu, viu pela primeira vez durante todo aquele tempo alguém decidido e forte. Viu seu desespero como ato de libertação e tomou a decisão que colocaria um ponto final em tudo aquilo. Por volta das 11h a sua mãe entrou no quarto e encontrou seu corpo frio e imóvel no chão do banheiro. Em um breve momento de esperança, pensou que ele tivesse desmaiado ou batido a cabeça em algum lugar. Até o momento em que o abraçou. A vida tinha se esvaído do seu corpo, o ar dos seus pulmões e o brilho dos seus olhos. Seu desespero foi tanto que por longos dez minutos ela tentou lhe reanimar até perceber, cansada e desolada, que não tinha mais o filho consigo.
O texto é ficcional, apesar de, infelizmente, ser a realidade de muitas pessoas. Doenças psicológicas ainda são tratadas como "drama" ou "frescura" e muitas pessoas ainda viram as costas ou não se preocupam com quem as possui. Nesse mês, está sendo comemorado o Setembro Amarelo, em prevenção ao suicídio. Precisamos nos preocupar com quem se afasta repentinamente, quem aparenta sempre tristeza, ansiedade ou medo. Precisamos dar mais importância e falar com mais preocupação sobre essas doenças. Depressão não se cura com "Mas você tem tudo na vida" "Você reclama demais" e nem tão pouco com "Tem gente com câncer mais feliz do que você". Assim como o câncer, depressão também é uma doença e deve receber o mesmo afinco no tratamento, tanto do doente quanto das pessoas que estão ao seu redor. Pequenos atos podem mudar o destino e a vida de alguém. Uma palavra de carinho, um gesto de amor e até um ato de compreensão, são, às vezes, o remédio perfeito para alguém com transtornos psicológicos. Para quem quiser saber mais sobre a ação e o que ela representa é só acessar o site http://www.setembroamarelo.org.br/ Você também pode salvar uma vida!
1 comentários
Acho que já te falei os inúmeros sentimentos que senti no decorrer desta leitura (via áudio), mas acho que através das palavras posso deixar tudo mais claro. Eu adorei o texto do começo ao fim, conseguiu unir o informativo e ficcional (porém parte de nossa realidade, infelizmente), de modo muito bem estruturado. Identifiquei-me bastante com o texto, me vi muito no que o personagem passou, mas também sei que há sempre um novo caminho a se percorrer e para isso muitas vezes precisamos de alguém para nos orientar, uma pessoa que diga: "ei, você precisa de ajuda" ou "ei, eu estou aqui". E espero que não só eu, você, mas demais pessoas sejam esse tipo de pessoa, não só em setembro, mas todos os meses do ano. Que possamos ser cuidadosos e empáticos uns com outros. Enfim, teu texto já disse tudo.
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