Aos oito anos de idade ganhei meu primeiro diário. Lembro
que a cada término do dia, sentava na cama, pegava uma caneta colorida e com
cheirinho e começava a escrever. “Querido diário”, afagava em cada folha. Lá contava
meus medos, segredos, dias monótonos e paixões. Recentemente reencontrei meu
confidente e fui preenchida por um sentimento de nostalgia. Ali, as palavras já
eram minhas amigas. Li cada página e me perguntei onde me perdi. Quando foi que
deixei as palavras, que antes me libertavam, me sufocar?
Hoje, tenho medo de escrever meus sentimentos e meus dias.
Tenho medo de expor o que se passa aqui, com medo de que esses sentimentos se tornem
ainda maiores ou ainda mais assustadores. Sei lá. Só sei que me perdi onde eu
mais me encontrava, no derramar de sentimentos. Criei uma barreira entre mim e
as letras, talvez por um dia ser chamada de ‘menina das palavras’. Mas isso foi um grande engano. Nunca fui a
menina das palavras. As palavras que, Ã s vezes, se tornavam de uma menina em um
diário com rosas vermelhas na capa e páginas coloridas.
Ultimamente meu diário perdeu o glamour. Hoje ele se estende
ao bloco de notas de uma tela fria e preta chamada celular. Hoje não uso mais
canetas coloridas e nem adesivos nas páginas e nem falo dos “ois” que recebia
na escola e que fazia meu coração bater mais forte. Hoje eu já não suspiro
pensando em romances dignos de cinema que eram idealizados por um sorriso no
recreio ou um confeito dado no final da aula pelo menino mais gato da turma.
Hoje meus relatos se resumem no quão desacreditada e quebrada estou. Se resumem
em a cada dia pensar menos em uma dor ou em um alguém. E é aà em que eu me
pergunto onde me perdi.