Me perdi nas palavras

17:06





Aos oito anos de idade ganhei meu primeiro diário. Lembro que a cada término do dia, sentava na cama, pegava uma caneta colorida e com cheirinho e começava a escrever. “Querido diário”, afagava em cada folha. Lá contava meus medos, segredos, dias monótonos e paixões. Recentemente reencontrei meu confidente e fui preenchida por um sentimento de nostalgia. Ali, as palavras já eram minhas amigas. Li cada página e me perguntei onde me perdi. Quando foi que deixei as palavras, que antes me libertavam, me sufocar?

Hoje, tenho medo de escrever meus sentimentos e meus dias. Tenho medo de expor o que se passa aqui, com medo de que esses sentimentos se tornem ainda maiores ou ainda mais assustadores. Sei lá. Só sei que me perdi onde eu mais me encontrava, no derramar de sentimentos. Criei uma barreira entre mim e as letras, talvez por um dia ser chamada de ‘menina das palavras’.  Mas isso foi um grande engano. Nunca fui a menina das palavras. As palavras que, às vezes, se tornavam de uma menina em um diário com rosas vermelhas na capa e páginas coloridas.

Ultimamente meu diário perdeu o glamour. Hoje ele se estende ao bloco de notas de uma tela fria e preta chamada celular. Hoje não uso mais canetas coloridas e nem adesivos nas páginas e nem falo dos “ois” que recebia na escola e que fazia meu coração bater mais forte. Hoje eu já não suspiro pensando em romances dignos de cinema que eram idealizados por um sorriso no recreio ou um confeito dado no final da aula pelo menino mais gato da turma. Hoje meus relatos se resumem no quão desacreditada e quebrada estou. Se resumem em a cada dia pensar menos em uma dor ou em um alguém. E é aí em que eu me pergunto onde me perdi.

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