Sinto sua falta

20:02


Fonte: Imagem do filme Um dia.
 Havia se passando alguns anos, perdemos o contato e muita coisa mudou. Terminei a faculdade, comecei a morar só, conquistei independência financeira e deixei de lado aquele sentimento que um dia me tirou o chão. Depois de você conheci alguns caras legais, outros sensacionais e uns idiotas. Chorei, sofri, sorri, me diverti, sai para beber, me iludi, cresci, amadureci, mas, em um dia qualquer, num shopping qualquer percebi que mesmo fazendo todas essas coisas, não te esqueci.

   Era uma sexta-feira, larguei do trabalho e resolvi fazer algumas compras. Estacionei, entrei no shopping e passei por uma loja que me lembrou você. Não precisei te ver, nem sentir seu cheiro, nem ao menos ouvir tua voz. Eu acreditava que seria fácil ou estava acreditando, até ali, que seria. Minha vida de festas, saídas com amigas, viagens, barzinhos e amores temporários haviam maquiado a dor que há muito tempo permanecia ali, escondida. Continuei andando, passei pelo cinema e vi em cartaz um filme de ação com o seu ator preferido e imaginei o que você diria se estivéssemos juntos. Com toda certeza você iria me chantagear com aquela carinha fofa e muitos chocolates para irmos assistir. Percebi que naquele dia. A vida tinha me dado um banho de água fria, pois, tudo me fez retornar a lembrança de te ter em meus braços.

    Cheguei em casa e pensei em te ligar, sabia teu número decorado e naquele momento só bastava ouvir a tua voz. Achava que você estaria casado, com filhos e um bom emprego. Talvez, nem estivesse mais morando por aqui e nem com o mesmo número, mesmo assim arrisquei. Após o quarto toque você me atendeu.  Aquela voz rouca de quem havia acabado de acordar fez meu estômago embrulhar só de lembrar as vezes que te acordava e mesmo sonolento você dizia que ouvir a minha voz era a melhor coisa que podia ter ao despertar. Fiquei nervosa e depois do seu terceiro alô, desliguei. Estava suando frio e parecendo uma adolescente apaixonada pelo cara mais gato do colégio e foi ai que percebi que não sentia aquele frio na barriga há muito tempo, assim como o sorriso bobo que estava, mesmo sem querer, exposto em meu rosto.

Sentei na cama e fiquei pensando por um tempo, sua voz continuava a mesma e me permiti imaginar que talvez, brevemente, você ainda sentisse o mesmo. Já que aquele dia estava repleto de nostalgia, resolvi procurar umas cartas e fotografias que havia guardado. Depois de remexer algumas gavetas e revirar algumas caixas, achei um envelope marrom e sem graça. Ao abri-lo revivi a grandeza do nosso amor. A primeira carta que encontrei foi do nosso primeiro ano juntos, você me descrevia tudo o que tinha feito você se apaixonar por mim, falava de uma menina meiga, carinhosa e destemida que já não existe mais. Falou do nosso primeiro beijo e como tinha sido o pedido de namoro, apesar de ser memórias vagas eu também não tinha esquecido. Chorei em cada parágrafo por perceber que você realmente me amava. Logo após, encontrei duas fotos nossas, as melhores (creio eu), já que foram as únicas que sobraram. A primeira foi no dia em que você se declarou para mim e demos o nosso primeiro beijo, estávamos em uma roda gigante e o brilho nos meus olhos chegava a superar o das estrelas que nos rodeavam. A outra foi na nossa primeira viagem juntos, quando você me disse que passaria a vida inteira ao meu lado se eu permitisse. Porém, foi no último objeto da carta que meu mundo saiu do eixo. Era a carta que você escreveu logo após o nosso fim.

"Lembro de como éramos, lembro dos nossos planos, do nosso futuro, de como seria a nossa casa e do nome dos nossos filhos. Você esqueceu? Lembra que prometeu me fazer feliz? Lembra que disse que queria viver seus sonhos ao meu lado? Lembra? Me diz que sim, me liga e diz que tudo isso não passou de uma brincadeira. Diz que queria só tirar onda com a minha cara e que ainda me ama. Diz o que você sempre me dizia, que a vida não teria graça sem mim. Por favor, me diz..." Ao ler apenas o primeiro trecho da carta me desmanchei em lágrimas, ver aquelas palavras novamente após tanto tempo me fizeram lembrar o porquê do adeus. Era um mês ruim para nós dois, brigávamos constantemente e sempre por besteiras e eu achava que aquele amor todo já não existia mais. As discussões me fizeram pensar em uma vida sem você, em uma vida de balada, de curtição, de foco nos estudos e de um futuro melhor sem todo aquele estresse que a gente estava causando um ao outro.

Eu deixei essas ilusões cegarem meus olhos e cobrirem os meus sentimentos e foi assim que resolvi te dizer um adeus. Lembro do dia, do clima e da roupa que usávamos, além da cara de decepção que você fez ao ouvir de mim que eu tinha outros sonhos e planos que já não incluíam você. Depois desse dia eu pensei em voltar atrás, mas era uma festa atrás da outra, minhas amigas sempre me lembravam com clareza as nossas brigas e eu estava adorando a vida de solteira. Deixando para trás os momentos magníficos que tivemos. 

Não satisfeita com todas as lágrimas que já havia derramado aquele dia, resolvi te procurar nas redes sociais. Digitei seu nome e nenhuma opção, após diversas tentativas lembrei que tinha te bloqueado há anos e que aquela tinha sido a solução para não te stalkear todos os dias. Desbloqueei e vi o que já esperava. Teu sorriso lindo estampado na foto de perfil ao lado de um labrador, lembro que imaginávamos o nosso e que o seu nome seria Tod. Ao clicar na foto a legenda fez uma ponta de esperança surgir em meu peito "Tod, meu amigo para todas as horas". Ver que você manteve o nome que escolhemos para o seu cachorro me fez pensar que talvez eu não tivesse morta em seu coração. Vasculhando um pouco mais, vi que você se formou no que queria e, assim como eu, tinha realizado diversos sonhos, viajado para os lugares que queria, provado as comidas que desejava e se aventurado por todos os esportes radicais que esperava. Lembrei, mais uma vez, que já tínhamos feito aqueles planos um dia. Após criar tanta esperança me deparei com o que eu já imaginava, você estava casado há 4 anos e vendo as fotos, as que eram desbloqueadas, vi a do seu olhar quando ela entrou. Não era nem de longe o olhar que você me dava ao me ver arrumada para sair com você, nem de longe o olhar que você me dava ao me ver acordar depois de dormir em seus braços ou o que me dava quando eu dizia que te amava.

Era um olhar mais maduro. O olhar que eu almejava ver ao entrar na igreja e te ver de terno me esperando para poder me chamar de esposa. Resolvi que iria te ligar mais uma vez e te deixar ir novamente, talvez eu nunca encontrasse um outro amor igual ao seu ou talvez eu nem quisesse encontrar outro amor igual ao seu. Sei que percebi tarde demais e que agora não posso mais voltar atrás, mas se por acaso o seu telefone tocar às quatro ou cinco da manhã, sou eu procurando apenas ouvir a tua voz pra amenizar a dor de ter perdido um amor como o seu.  

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