Você vive ou só posta?

17:29

   
Fonte: Google imagens
    Ela acordou e a primeira coisa que fez foi pegar o celular, tinha que ver suas mensagens, checar seus e-mails e, claro, olhar as curtidas na sua última foto do Instagram. "120?" Se perguntou indignada. Não acreditava que uma foto tão linda que demorou tanto tempo para pensar e mais tempo ainda para editar merecesse só aquela quantidade. Ela não entendia. Estava com um sorriso perfeito, em uma praia magnífica e com um corpo todo photoshopado. Não via nem um erro, mas se convenceu que iria ter mais e deixou essa neura um pouco de lado. Foi ver seu feed, viu uma amiga da faculdade em Paris, um vizinho comprado o novo apartamento e o seu ex com a nova namorada. Stalkeou a "patricinha" da faculdade e invejou as suas fotos em festas e barzinhos. Curtiu a foto de um sol maravilhoso na Jamaica e esqueceu de olhar o que fazia ali bem na sua janela, comentou a foto de uma maravilhosa mesa de café da manhã e esqueceu de tomar o que sua mãe preparou com tanto carinho antes de ir trabalhar, seguiu um menino lindo que era fake e esqueceu de aceitar aquele da faculdade que sempre era gentil com ela. Depois de fazer o mais essencial do seu dia, atualizar suas redes sociais, levantou com mau humor por não se enquadrar em nada que ela considerava "normal".
     Começou o dia com o pé esquerdo e tratou a todos como se fossem culpados. Não respondeu o bom dia do pai e nem aceitou o convite da Irmã de ir ao cinema. Saiu de casa sem ao menos agradecer por mais um dia de vida, aliás pra quê agradecer se ela tinha saúde mas não tinha 1 milhão de seguidores? Pra quê agradecer o pão que tinha na mesa se não tinha a geleia que ficaria linda compondo uma foto? Pra quê agradecer pela família ou amigos se ela não tinha aquele namoro perfeito que muitas no Instagram tinham? Para ela a vida só mereceria agradecimento se ela tivesse a sorte de ser uma digital influencer, se um dia fosse pra uma viagem internacional ou se tivesse o namorado dos sonhos daqueles que fazem surpresas e ganham hastags com shippos. O que ela não sabia é que muitas agiam exatamente assim com o perfil dela, muitas entravam e se encantavam com as fotos que ela passava dias planejando e com a felicidade de fachada que ela tanto esbanjava. Nesse ciclo levamos nossa vida nesse século, invejamos o feed bonito, o namoro perfeito, a barriga chapada sem saber que alguns queriam apenas ter um celular igual ao nosso, uma família ou ir naquele churrasco da família que não postamos. Vivemos na era da influência, somos influenciados a gostar de determinada marcar, de gostar de determinado filme, música ou série para sermos cool. Somos influenciados a esbanjar diariamente uma felicidade que não temos e uma vida que não temos. Ninguém é perfeito como demonstra nas fotos das redes sociais, nenhuma pele é tão perfeita, nenhuma viagem é tão magnifica, nenhum namoro é tão incrível. 
     Não precisamos nos privar delas e extermina-las das nossas vidas, só precisamos de controle e de um choque de realidade. A vida cibernética é bem diferente da vida real, precisamos diferencia-las e vive-las de formas separadas e distintas. É maravilhoso ser feliz no stories ou nas postagens, no entanto, é mais ainda ser feliz ao vivo e a cores. 

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