Essa carta deveria ser para você
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Imagem retirada do Tumblr.com |
Começo essa carta esperando que
você nunca a leia. Essa poderia ser uma carta feliz contando como você
me ensinou a andar de bicicleta, como você teve raiva do primeiro carinha que
me magoou ou como você sentou ao meu lado para conversar e me aconselhar sobre
a vida, mas não é. Não é porque não tenho nenhuma dessas lembranças. Não vivi
nenhum desses momentos com você. É uma carta na qual eu escrevo os sentimentos
que não consigo te dizer.
Como você não vai ler posso dizer
que sinto imensamente a sua falta e que, às vezes, preferia que você morasse a
quilômetros e quilômetros de distância de mim. Assim, a distância entre nós
teria, pelo menos, um motivo cabível, já que estamos a poucos metrôs
fisicamente, mas a milhas em relação a sentimentos. Temos um laço apenas
sanguíneo, mas esse laço não reflete em nossa relação. Te vejo e a única coisa
que sei é que compartilhamos apenas os genes. Você não sabe da última doença
que tive, nem da última nota boa que tirei e nem do meu temperamento forte
quando estou de tpm. Você não sabe como é meu dia e nem conhece a minha rotina.
Não sabemos o que é ter essa relação de convívio.
Queria dizer que isso não me dói.
Que o carinho que ganho de outras pessoas me basta. Me basta, sim! Mas falta o
seu. Aquele que ninguém pode substituir e que eu não recebo. Não recebi aquela
ligação preocupada pela infecção intestinal que tive e nem a ligação confiante
pela entrevista de emprego que faria e isso me faz falta. Queria saber se faz
pra você também, se ao deitar a cabeça no travesseiro você se pergunta se
poderia fazer mais, se poderia ser mais do que apenas um nome em uma certidão.
Ou pelos menos, se sente a minha falta. Sente a falta de sentar ao meu lado na
mesa e perguntar como está a faculdade ou o namoro. Se sentiu falta de me ver
crescer e me tornar a mulher que hoje sou. Mas a resposta que ouço soa vazia
porque não vem com a atitude de um abraço ou de uma simples ligação.
Não vou apenas te culpar,
compreendo que a culpa é minha também. Também não te procuro, não ligo, não me
importo - ou demonstro não me importar. Mas saiba que é medo. Medo desse
sentimento de vazio não ser mútuo. Medo de não ser mais necessária na tua vida
e de não fazer mais diferença e por isso vou deixando como está empurrando com
a barriga e fingindo que tudo está bem.
No entanto, saiba que essa carta não é pra
você. Até porque no início disse que espero que você nunca leia. Essa carta é
mais para mim. Para deixar cair essa máscara de forte e perceber que você e a
sua falta me machucam muito e que por mais que eu tente não ligar, não me
importar, não me magoar, te ver e ver essa relação vazia que temos me destroça
em mil pedaços. Queria sair um domingo de tarde para ver o jogo do nosso time,
sorrir, te contar sobre a minha vida e te dizer que te amo. Queria sentir tua
proteção paterna, teu medo de me perder e tua admiração pela menininha que
cresceu. Queria ser mais sua filha e te ter mais como pai. Porém, aprendi com a
vida que nem sempre temos o que queremos e que, às vezes, a falsidade de uma
boa relação é melhor do que o preço de sentar e expor a verdade. Por fim,
escrevo pra mim, para você e para esse sentimento que insiste em me abater,
mesmo sabendo que às vezes é melhor a falsidade do “tudo bem” do que a o caos
da realidade.
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