Desmistificando meus gostos
16:47
As estórias que mais me encantam e impressionam são as impossíveis. Ou melhor, são as que parecem impossíveis, mas que de uma forma ou de outra me encantam, justamente, por isso. Devido a isso, vim narrar duas das minhas estórias favoritas. Ambas possuem um amor incompleto e interrompido pela morte, outra coisa que me fascina. Isso tudo deve-se ao seu mistério, talvez, se eu soubesse ou se ninguém temesse a tal da morte, ela nem me encantasse tanto assim. Outra coisa que me encanta nessas estórias são os limites ou a falta deles quando amamos alguém e a primeira que nos demonstra isso,é o mito de Orfeu e Eurídice que de longe é o meu preferido.
Orfeu, era filho de um deus com uma ninfa e herda do seu pai uma lira, na qual toca divinamente. Himeneu, o deus do matrimônio, consagra o amor dele e de Eurídice. No entanto, nem a sua consagração impediu a morte de leva-la para longe do seu amado. Orfeu, inconformado com a perda da sua mulher e sem encontrar meios de trazê-la de volta, vai até o inferno, busca-lá. Chegando lá, consegue com a sua lira barganhar Caronte, o barqueiro do inferno, para que o leve até Hades. Seu canto e seu doce lamento ameniza as torturas das almas que ali se encontram e ele consegue até arrancar lágrimas do próprio deus do inferno, que devido a insistência da sua esposa, concede a Orfeu uma chance, porém, nada é tão fácil quanto parece e não seria diferente nessa estranha estória de amor. Hades impõe uma cláusula para Orfeu, ele só teria sua amada novamente no mundo dos vivos se conseguisse fazer todo o percurso de volta sem olhar para trás. Sem ter a certeza de que sua amada viria logo depois.
Já pensou que impossível? Se você tivesse a chance de resgatar o seu amor, seja lá de qual motivo, da morte, dos braços de outra pessoa ou até da falta de sentimento, você conseguiria ir sem olhar para trás? Aposto que não. Pois nem Orfeu conseguiu. Ele conseguiu ir boa parte do caminho confiante que sua amada lhe seguia, porém, no final ele resolveu dá uma pequena espiada. Neste momento, Eurídice se tornou novamente um espírito e voltou a pertencer ao mundo dos mortos. Como castigar um coração que só queria por segurança ou simples luxúria ver a sua amada outra vez? Porém, por se sentir culpado e devido ao tamanho do seu amor, Orfeu permaneceu no lago próximo a saída de onde perdeu a sua esperança sem comer ou beber. Rejeitando todo e qualquer tipo de mulher que se aproximava. Por causa dessa rejeição foi morto, despedaçado e jogado ao rio pelas donzelas que tentavam o seduzir. Ele entrou pela segunda vez no inferno e a primeira palavra que pronunciou foi o nome da amada, Eurídice. Tomando-a nos braços freneticamente pelo seu reencontro. Repleta de amor, esperança, ternura e melancolia, essa estória me prende pelo simples fato de refletir tão bem nossas vidas atuais. Quantas vezes, por medo, insegurança ou até mesmo egocentrismo perdemos algo que estávamos tão perto de conseguir? Estávamos quase lá, mas bastou apenas uma olhada, uma espiada de nada, para tudo se tornar pó. Assim como Orfeu, não confiamos nas oportunidades nos dadas. E ao invés de irmos cegos, sem olhar para trás, vamos receosos e com medo.
A outra, mas não menos importante. É a de Dante. Muitas histórias rondam esse grande escritor, muitas verdadeiras outras meras falácias. A própria divina comédia já ganhou inúmeras versões. A que mais me fascina é a de que ele escreveu a divina comédia como forma de encontrar o seu utópico amor, Beatriz já que na época em que o poeta viveu, se apaixonar por alguém não implicava em casar-se com ela, já que naquela época casamento era um jogo de interesses, não muito diferente do que é hoje, mas de interesses políticos e econômicos. Beatriz já era comprometida a outro rapaz. Assim como o próprio Dante e já que não podia tê-lá ele a idealizou.
Dante entra em uma viagem infernal, assim como Orfeu, mas, ao contrário dele Dante não foi encontrar sua amada, Beatriz era uma alma pura e estava no paraíso e por não poder guia-lo em sua viagem ao inferno, ela lhe envia Virgílio, poeta romano que escreveu a Eneida. Com a sua ajuda Dante atravessou pelos nove círculos do inferno. Dante poeta nos faz idealizar um inferno não só com labaredas e tridentes, mas sim, um inferno com círculos e castigos destinados a cada pecado, seja ele gula, avareza, luxúria, suicídio... E além de nos encantar com a sua bravura para concertar seus erros, ainda nos faz refletir se iríamos para algum desses círculos caso morrêssemos hoje. Sem falar da indagação que ele planta em nossos corações de que seríamos ou não capazes de adentrar as profundezas do inferno por quem amamos.
Dante entra em uma viagem infernal, assim como Orfeu, mas, ao contrário dele Dante não foi encontrar sua amada, Beatriz era uma alma pura e estava no paraíso e por não poder guia-lo em sua viagem ao inferno, ela lhe envia Virgílio, poeta romano que escreveu a Eneida. Com a sua ajuda Dante atravessou pelos nove círculos do inferno. Dante poeta nos faz idealizar um inferno não só com labaredas e tridentes, mas sim, um inferno com círculos e castigos destinados a cada pecado, seja ele gula, avareza, luxúria, suicídio... E além de nos encantar com a sua bravura para concertar seus erros, ainda nos faz refletir se iríamos para algum desses círculos caso morrêssemos hoje. Sem falar da indagação que ele planta em nossos corações de que seríamos ou não capazes de adentrar as profundezas do inferno por quem amamos.
Com coincidências ou não, as duas estórias me encantam pelo fato de ultrapassarem o limite do finito. Por mostrarem um sentimento tão grande ao ponto de encorajar um homem a ir em um lugar desconhecido e desbravado atrás de um amor. E mesmo sabendo da mitologia presente nas duas, elas me encorajam não a ir a um inferno mas a fazer o possível e o impossível por quem amo. Pois, ao contrário deles, não terei um inferno a minha disposição para resgatá-los depois da perda. E acho que essa é a lição mais importante que podemos tirar das duas. Somos falhos, fracos, inseguros e humanos. E erramos muito ao lidar com sentimentos e pessoas, porém, só temos um curto período de tempo para consertar tudo que fizemos ou faremos. E esse tempo tem que ser aproveitado com sabedoria e exatidão, pois, até Orfeu e Dante erraram quando tiveram uma segunda chance.
"Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança..." - Dante Alighieri.
Se alguém quiser conhecer um pouco mais da Divina comédia de uma forma mais descontraída do que a original que é em tercetos, o filme Inferno de Ron Howard inspirado no livro de mesmo nome de Dan Brown é uma ótima escolha.
P.S
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