O desejo de escrever pessoas

18:11

     

      Hoje, voltando para casa da faculdade me indaguei o porquê de ter escolhido essa profissão. Me vi questionando o motivo de ter escolhido o jornalismo e o motivo de querer ser uma jornalista. No momento, gostaria de ter uma resposta filosófica para essa minha pergunta, até para dá credibilidade a minha vida profissional, mas cheguei a seguinte conclusão: quero ser jornalista pelo simples fato de ser curiosa. Vou tentar explicar um pouco melhor e para isso voltarei alguns anos da minha vida.
      Aos 5 ou 6 anos minhas brincadeiras preferidas eram brincar de secretária - adorava calçar os saltos da minha mãe e me sentir importante indo e voltando no meu carro imaginário para casa-, brincar de cozinhar - com as plantinhas, claro - e algumas vezes, com menos frequência, de boneca. Mas, se me perguntassem o que eu queria ser quando crescesse, a profissão de secretária, cozinheira ou pediatra passavam longe da minha cabeça. Eu queria ser astronauta. Queria conhecer a lua, matar a minha curiosidade de saber se ela tinha formato de queijo ou se havia um tal de São Jorge com seu dragão lá em cima. 
    Com o passar dos anos essa minha curiosidade de ir a lua como profissão foi sendo deixada de lado. Aprendi a admira-lá com outros olhos e comecei a redefinir as minhas dúvidas, sem contar na descoberta de que precisaria de física para chegar até onde queria. Comecei a querer ser assistente social, influenciada por familiares e por achar que era a profissão que ajudava os outros, não que deixe de ser, mas para mim assistência social era apenas isso e me encantava o fato de ser melhor a cada dia para as pessoas que me rodeavam e precisavam de mim. Depois disso, me vi sendo muitas coisas.
      Me vi fazendo direito, me encantavam as leis, os livros enormes para ler e o poder que a profissão iria me conceder. No entanto, me vi questionando se estava preparada para abdicar dos meus valores e princípios para uma profissão que não dependeria exclusivamente da minha moral. 
     Me vi sendo médica/enfermeira, por ser profissões lindas e por ver o amor que minha mãe tem por ajudar quem necessita dela como enfermeira. Porém, apesar de ver beleza, me faltava o dom de ver normalidade em alguém sangrando, ferido ou morrendo. 
    Me vi sendo historiadora, por gostar de histórias e por me encantar com o fato de sabermos tanto sobre civilizações e acontecimentos passados mesmo sem ter vivido-os. Mas, apesar de gostar não era algo que me via fazendo pelo resto da vida ou que me motivasse a acordar todos os dias e ser uma profissional melhor.
   Me vi sendo muitas coisas, até chegar no tal do jornalismo. Tudo começou com opiniões de terceiros, quando estava no último ano do ensino médio e me perguntavam qual opção eu iria escolher.  Sempre ponderava duas opções e uma delas era o jornalismo; e aí me diziam: "Você tem cara de jornalista" "É uma boa, você gosta de ler" E isso foi me levando a acreditar que eu realmente tinha jeito para o jornalismo. Comecei a procurar mais sobre a profissão, a fazer testes vocacionais e entrei meio que por gosto e por afinidade com a leitura e a escrita. 
      Hoje, olhando da janela desse ônibus para as pessoas que me rodeiam e me perguntando o porquê, percebo que escolhi essa profissão por mera curiosidade como já foi citado, não curiosidade da profissão, mas curiosidade das pessoas e das histórias que elas carregam. Olho para o homem sentado ao meu lado e imagino como será a sua vida, quais serão seus medos, suas vontades, suas cicatrizes e os seus sonhos. Será que ele é casado? Será que é infiel? Ou será que guarda uma dor imensa no peito? Essa minha curiosidade em saber o que se passa em cada um se torna no meu desejo de conhecer, ouvir e compartilhar as suas histórias. Quero ser jornalista porque quero sentar e ouvir de uma Maria ou de um José a história da sua vida, quero saber suas decepções, suas quedas, suas vitórias, seus medos... E depois quero dá volume a uma voz que já existe mas que é esquecida ou silenciada, uma voz que mesmo sendo tão comum e igual carrega no peito algo que ninguém pode ter ou copiar, o seu verdadeiro eu, formado por tudo que já viveu e ainda viverá. E mesmo que não seja nada surpreendente como um dom ou um desejo de infância. Essa curiosidade me motiva a cada dia e espero que continue me motivando, pois no dia em que minha curiosidade, seja de mim ou dos outros, se saciar não significará que conheci todas as coisas e pessoas do mundo, mas, que deixei de me auto conhecer. 

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1 comentários

  1. Ainda bem que vc se tornou uma pessoa curiosa, pois só assim a humanidade ganhará uma jornalista, uma jornalista que não verá apenas o sensacionalismo de sua reportagem, mas sim a essência de cada ser humano, sua historias, sua vez e sua voz!! parabéns por esse dom!!!

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