Não importa se não lutamos em um guerra na França, se não descobrimos o polônio ou se não assinamos a lei áurea. Pois, lutamos uma guerra diária ao sairmos de casa e enfrentarmos esse mundo de cultura machista e arcaica. Descobrimos, todos os dias, não um elemento químico mas que podemos a cada dia nos reinventar e desestruturar os conceitos de sexo frágil e de que mulher só serve para o tanque. Não assinamos a liberdade dos escravos, mas assinamos a cada dia a nossa própria liberdade. Buscando nosso espaço, nossas vontades e direitos. 

      Hoje, dia 08 de Março, não é um dia para nós mulheres, mas sim para os homens, para que eles lembrem a nossa importância nem que seja só por um dia, porque nós sabemos dela diariamente ao olharmos no espelho. Sabemos a importância de carregar o orgulho de ser mulher e o peso que esse orgulho nos traz. Não importa a cor, o credo, a cultura... Não importa o medo, as vontades, as opiniões... Não importa se participa de um movimento ativista, se aceita cantada, se pega geral ou se é a santinha... Não importa se não quer ser mãe ou se quer ser, se trabalha ou se cuida apenas da família, se sabe cozinhar ou não... O que importa é que fomos, somos e seremos seres com desejos e opiniões próprias. E que não merecemos e nem queremos nos esconder atrás de uma figura masculina ou de frases clichês. Não somos um sexo frágil, mas seremos se quisermos. Não ficaremos atrás de um grande homem por sermos uma grande mulher. Apenas seremos uma grande mulher ou iremos lado a lado de um grande homem. Não nascemos para ter o nosso lugar na cozinha, mas o nosso lugar onde quisermos. Na cozinha, na sala de aula, em um laboratório, em uma construção, em um hospital e até no espaço.

      Estamos provando isso ao decorrer do tempo, muitas vezes sem o devido privilégio como Hipácia, nos disfarçando como Joana d'arc ou até mesmo sendo chamada de "fácil" como Cleópatra mas não desistimos. Passamos nossas vontades através de gerações e hoje nossa voz está sendo ouvida e ecoada aos quatro cantos. Por isso, homens, não nos parabenizem apenas hoje ou apenas por sermos delicadas, carinhosas ou românticas. Nos parabenizem a cada dia por sermos fortes mas sensíveis, por sermos carinhosas mas duronas, por sermos românticas ou qualquer coisa que quisermos. Nos parabenizem por saberem o nosso valor não só dentro de casa, lavando, passando e cozinhando. Mas, por saberem o nosso valor na sociedade. Por saberem o que construímos, o que sofremos e o que deixamos como legado. 

      Nos parabenizem pelo o "gostosa" que ouvimos por desconhecidos, pelo o "cachorra" que ouvimos ao transparecer nossos desejos, pelo "vagabunda" que ouvimos ao não aceitar alguém nos maltratando, pelo "insensível" que ouvimos ao não engravidar e pelo "irresponsável" que ouvimos quando engravidamos fora do casamento. Nos parabenizem pelo "gorda" que somos taxadas ao não nos encaixarmos nos padrões de beleza, pelo "relaxada" ao não nos cuidarmos após ser mãe, pelo "machona" ao querermos ser outra coisa do que nos dizem que somos e pelo "ela gosta de apanhar" ao ato de violência que sofremos. Nos parabenizem pelo "ela procurou" quando somos abusadas, pelo "minha ex não era assim" ao sermos comparadas, pelo "louca" ao demonstrar nossos sentimentos e pelo "você não consegue" por sermos mulheres. Nos parabenizem por isso, por aguentarmos trancos e barrancos desde a inquisição até essa imensa globalização sem deixar de lado a beleza em ser a mulher que quiser. 

"Pra enfrentar o que der e vier, só a força de uma mulher que sabe muito bem o que quer..." - Humberto Gessinger